A cultura de seriados

O crescimento da cultura de seriados americanos criou uma geração que mal pode esperar pelo próximo episódio.

31/05/2013 15:36 / Por: Bruna Valle
A cultura de seriados

Com a ascensão da TV a cabo e ainda do aumento do acesso à internet, as séries americanas já são parte do cotidiano de muita gente. Mais que isso: algumas pessoas não falam ou pensam em outra coisa que não “como será o próximo episódio?”. Tema dos mais variados produtos comunicacionais, o assunto “seriado de TV” tem dado o que falar, e tem movimentado não só a mídia, mas também o mercado.

De onde elas vieram?


As séries de TV nasceram nas produtoras de cinema, e tinham um número pré-definido de episódios para acontecer. Desde a década de 20 já se podia acompanhar esse formato de entretenimento, mesmo na época da imagem sem som. Porém, neste momento da história, os capítulos só se passavam em salas de cinemas e não na televisão, como conhecemos hoje. Porém, a fórmula em si não mudou muito: quem poderia imaginar que uma das principais características de roteiro dos seriados de TV, o “Cliffhanger” – que continua até hoje – começou a ser feito lá atrás? Esse recurso de roteiro de ficção se caracteriza por aquele momento final da temporada em que acontece uma grande reviravolta e deixa o “mocinho” numa situação limite gerando grande expectativa para o próximo episódio. Uma jogada de mestre.


O esquema das pequenas produções era simples: baixo orçamento, muita ação, pouco diálogo e uma considerável semelhança com as histórias em quadrinhos. Muita coisa foi produzida como seriado para o cinema: somente nas telonas, 231 histórias foram contadas com esta linguagem.
Com o fim da 2ª Guerra Mundial, o gosto dos espectadores foi mudando, sobretudo pelo surgimento da televisão como forte competidora pelo público do cinema. Embora a popularidade das séries estivesse bem estabelecida dentro das salas de cinema entre os jovens e crianças por volta dos anos 20, elas foram incorporadas pelos canais de televisão – que reproduziam diária ou semanalmente os episódios.


De lá para cá, o mercado de séries de TV foi se multiplicando freneticamente. Podemos ver isso na prática simplesmente acompanhando o número de séries que são produzidas e renovadas todos os anos pelos grandes canais internacionais. O foco não é mais apenas ficcional: atualmente existem também séries que adotam a linha de reality show, como a espécie de show de calouros que é o “American Idol”.  Segundo a revista Forbes, em 2011 o programa arrecadou aproximadamente 7,11 milhões de dólares, figurando na lista das séries mais lucrativas em primeiro lugar; seguida por “Two and a Half Men”, série cômica de muito sucesso que rende US$ 2,89 milhões por episódio exibido.


Paixão trabalhosa


Mas não é só o mercado que esquenta quando o assunto é série de TV. Elas motivam todo tipo de páginas da internet – que, por sua vez, tem toda sorte de informação e especulação sobre a história e personagens – e ainda são assunto nas redes sociais, nas conversas informais por aí e motivo de, por que não? Preocupação para os mais aficionados. O passatempo demanda empenho. A estudante e ilustradora de 22 anos Thaís Silva é prova disso. Ela conta que conheceu a magia das séries de TV quando tinha oito anos, e revela que não acompanha assiduamente apenas uma, mas doze séries – para as quais ela dedica pelo menos três horas diárias. “Eu assisto série desde que tinha uns sete ou oito anos. A primeira foi Buffy, acho.

Atualmente, as séries que eu mais gosto são Arrow, Once Upon a Time, Game of Thrones, The Vampire Diaries, True Blood, Lost Girl, Hannibal, Bates Motel, The Borgias, Modern Family e The Following. Estou começando Hemlock Grove”, enumerou. “A grande maioria dessas que eu assisto, comecei a acompanhar desde que foram lançadas. Eu sempre baixo os episódios no dia seguinte ao lançamento nos Estados Unidos. Como algumas passam no mesmo dia, eu assisto duas, às vezes. Uns três episódios por dia”.


Como acompanhar todas essas narrativas? Ela explica: “Eu sempre tive costume de ver várias séries ao mesmo tempo. É fácil gravar as histórias, e é só tirar duas ou três horas por dia para acompanhar. E tem séries que não passam ao mesmo tempo também. Por exemplo, Game of Thrones e True Blood são da HBO. Uma passa no primeiro semestre, outra no segundo”.


Para ela, as séries são uma opção de entretenimento rápido e interessante, pois é mais curta que um filme e suas tramas instigantes têm maior duração e complexidade a longo prazo. Ela conta que se estiver muito ansiosa por um desfecho no seriado, dispensa até um filme que queira ver. “Tem episódios que acabam super tensos e eu fico desesperada pro próximo. Nesse caso, prefiro o episodio. Em geral opto por ver a série logo, que é mais rápido, e dá pra ver o filme depois. Os episódios variam de 20 até 50 minutos, então é tranquilo ver vários episódios de uma só vez”.


Para a estudante, o grande diferencial é a proximidade das histórias representadas nos seriados com a vida real, principalmente nas séries que trabalham situações do cotidiano, como a famosa “Sex and the city”. Ela acredita que um dos principais fatores para uma série ter sucesso é “o quão bem elas conseguem se comunicar com o público. Em geral, tem a ver com uma boa historia e com quão bem construídos são os personagens. Isso é normalmente determinante pra uma pessoa assistir uma série”.


Já Flávia Guterres, 31, que também é estudante, não assiste tantas séries assim, mas acompanhou grandes sucessos de público, como “ER” e “Friends”. Atualmente assiste títulos como “Homeland”, “Downtown Abbey”, “Modern Family” e “How I Met Your Mother”, mas não deixa de assistir um filme novo para ver um dos episódios das séries que gosta.


Para Flávia, o que faz uma boa série tem a ver com vários fatores. Ela lista alguns deles: “Boa história, bom roteiro, boa direção e bons atores”. Ela destaca ainda que, diferente de muitos aficionados por seriados que fazem pesquisas e especulações na rede em busca de uma ou duas informações sobre seriados, ela tem uma relação ponderada com seus folhetins preferidos. “Minha ansiedade com séries não chega a esse ponto. É uma ansiedade saudável, digamos. Atualmente estou na expectativa de novas temporadas de três séries e que só estreiam em setembro”, admitiu.


Conteúdo extra


O idealizador e fundador do blog “seriemaniacos.com.br“ ,o publicitário Michel Arouca,  se especializou em tratar do assunto. Ele conta o que leva seu site a ser tão representativo no segmento: “O blog possui mais de 50 colaboradores, que escrevem reviews, redigem notícias e falam sobre séries em podcasts. Hoje o ‘Série Maníacos’ é o maior blog sobre séries de TV do Brasil, com mais de 1.7 milhão de pageviews todos os meses. Todos os colaboradores do blog são jovens entre 15 e 30 anos, de diferentes partes do Brasil”.


A página no facebook do “Série Maníacos” tem mais de 22 mil seguidores que acompanham o que o publicitário chama de conteúdo feito de fã para fã. Segundo ele, “todo o conteúdo que vai ao ar é algo que a própria pessoa que postou, gostaria de ver ou ler sendo um fã de séries”. Para produzir informação dos mais variados assuntos ligados as séries, Michel conta o segredo: “Tem que ter muita dedicação. Assistimos inúmeras séries, mas apenas aquelas que gostamos. Como somos uma equipe grande, sempre tem alguém para falar de quase todas as séries”.


O trabalho é bastante colaborativo, para o site e a página funcionarem a todo vapor. “Os seguidores e leitores sempre ajudam dando dicas de notícias que passaram batidas, trilhas sonoras para os podcasts, erros que foram postados... Muitas vezes eles estão mais antenados e conhecem mais sobre séries do que a própria equipe do ‘Série Maníacos’”, comentou.


Além de entusiasta, ele confessa que também acompanha vários títulos ao mesmo tempo – entre eles “Breaking Bad, Doctor Who, Mad Men, Parks and Recreation e The Good Wife”. Para ele, os roteiros trazem “qualidade, originalidade, tramas inteligentes e ousadas”. E ainda revela: “neste meio, existem pessoas que assistem mais 50 episódios em uma semana”.


Para Michel, o fascínio por histórias seriadas se deve, em parte, ao alcance proporcionado pelo desenvolvimento tecnológico: “a cada dia que passa, mais pessoas estão tendo acesso à boa internet e à TV a cabo com mais facilidade. As séries sempre foram bastante populares, mas hoje em dia a coisa realmente se espalhou com mais força, tanto em jovens como adultos”.


O publicitário ainda acredita que o foco nas séries de TV só tem a crescer – e conta com isso nos seus planos para o futuro. “O ‘Série Maníacos’ já é o maior blog do Brasil, e a intenção é terminar 2013 como o mais relevante. Algumas mudanças editoriais e de layout estão chegando e irão sacudir o nicho de fãs de séries no país”.

 

Fotos: Callebe Garcia/ Série Maníacos/ Divulgação

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