Igor Rickli

Nascido em Ponta Grossa, no Paraná, Igor deixou o sul do país para realizar o desejo de trabalhar na televisão.

22/12/2021 14:47 / Por: Nanda Araújo
Igor Rickli

Contrariar a personalidade, a cor do cabelo, ou ainda falas que não fazem parte do vocabulário cotidiano, os atores já estão acostumados. Eles são mestres em se virar do avesso para dar vida a vozes que nem eles imaginavam. Mas experimentar uma vivência contra o próprio nome, foi a primeira vez, para o ator Igor Rickli. 

Rickli, de origem suíça e Cristófolo, de raiz grega italiana, que significa “o portador de Cristo”, Igor Rickli Cristófolo, acaba de dar vida a Lúcifer, na novela Gênesis. Durante dez meses, o ator conta que experimentou mergulhar nas próprias sombras para construir o personagem - o Anjo do mal que desafiou Deus. “Eu pensei: o que eu vou achar das minhas sombras para oferecer pra esse cara, pra essa entidade? E aí eu falei, não tem como fugir, tem que olhar para elas e honestamente... não é agradável a gente vibrar nesse lugar.” Conta o ator.

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Nascido em Ponta Grossa, no Paraná, o menino sonhador deixou o sul do país para realizar o desejo de trabalhar na televisão. Caçula de uma família de quatro filhos, Igor é filho de professores, a mãe do ensino primário e o pai de história e geografia (hoje os dois estão aposentados) e conta que ouviu muitas risadas quando dizia que queria ser ator. “Era uma loucura uma criança no interior do Paraná, numa cidade micro falar eu vou trabalhar ali (se refere a televisão). De onde vem essa ambição?” Lembra.

Ivana, a irmã mais velha, foi a sua maior incentivadora. “Querer é poder”, a frase frequentemente dita por ela é a que mais ecoa na mente do paranaense. “Foi ela quem me colocou no avião pra ir pra São Paulo, ela falou ou você tenta agora ou você vai ficar frustrado pra sempre, então vamos tentar!” Relembra Igor, como se fosse hoje. Na época, ele tinha 17 anos e era a primeira vez que o menino acostumado a tirar leite de vaca, na chácara onde morava com a família, conhecia a cidade grande.

Igor chegou em São Paulo e entrou para uma agência de modelos. Fez alguns trabalhos, mas nenhum como ator. As dificuldades apareceram, o dinheiro acabou e um ano e meio depois ele decidiu voltar para o Paraná. “Eu cheguei a pedir dois reais para uma pessoa na Avenida Paulista para pegar um ônibus. São Paulo estava me massacrando, eu senti uma pontada de uma depressão lá. Eu não sabia na época, mas eu lembro de ver aquele caos, aquele calor, aqueles prédios, aquele asfalto quente e falei: não é pra mim isso daqui, não é o meu lugar” Diz Igor.

Mas o que parecia ser o fim, na verdade era o início. Com o retorno para Ponta Grossa, Igor participou de uma peça de teatro na cidade e conheceu atores que moravam no Rio de Janeiro. Fez contatos e dois anos depois se mudou para o Rio, de onde nunca mais saiu. Conseguiu o primeiro papel aos 27 anos, no musical Hair, uma releitura da Broadway, como protagonista. Mas antes disso, trabalhou como garçom, em um restaurante na Gávea, na zona sul carioca. “Pagava meus cursos de teatro com esse dinheiro. Aprendi muito”. Conta o artista orgulhoso.

Hoje, aos 38, ele relembra uma década de carreira, fala de educação, racismo, da família e de projetos que incluem a gravação de um programa na Amazônia. 

Foi na casa onde mora com a mulher, a também atriz e cantora Aline Wirley e o filho Antônio de 7 anos, que Igor Rickli recebeu a Revista LIV. “Pra mim, a natureza é divina, é o meu sagrado, onde eu procuro sempre estar em contato, escolhi morar no meio do mato, porque é uma coisa que eu me conecto demais.” Diz Igor se referindo ao casarão antigo no Alto da Boavista, onde vive. Um lugar rodeado de verde e um silêncio que só é interrompido pelo canto dos pássaros ou pelo som do piano que ele toca.

Você consegue dizer se aprendeu alguma coisa com Lúcifer?

Igor – “Tomei surras! Mas ao mesmo tempo eu falei: eu não posso ter uma rusga de medo pra fazer isso, eu tenho que confiar, então eu confio na minha espiritualidade, confio no meu Divino, confio que eu estou representando e vou fazer isso com a maior integridade que eu puder. Hoje eu vejo o mal como uma ignorância, eu vejo até na novela que o Lúcifer impera assim. Ele chegava no ouvido falava e sugestionava, então quando as coisas ficam reféns da ignorância, eu vejo que o mal se expande. E quando você traz a verdade, você traz a clareza, aquilo dissipa. Vibrar nesse lugar, foi bem confuso, bem difícil, até pra Aline foi difícil, porque eu sou desses, eu começo a viver o personagem, eu trago pra casa e é um horror, eu nem percebo, quando eu vejo, eu estou reagindo daquela forma, só que mano, eu não o Lúcifer, eu não posso... A Aline falava: “Ai meu Deus! Lúcifer, vai embora” (risos)


Você é filho de professores. Qual a sua maior preocupação com a educação do Antônio?

Igor – “A minha preocupação máxima com o Antônio é que ele seja um cara íntegro e feliz. Eu quero respeitar ao máximo a essência dele. Acho que a educação transpõe qualquer coisa do que foi escrito, acho que a educação vem de uma parada mais sensorial de respeito, com o coletivo, com o espaço onde a gente tá. Ser pai do Antônio me ajuda muito a tentar transformar ele na melhor versão dele, que ele só floresça saudável, porque eu acho que a gente tá vivendo uma transformação mesmo de valores. Entrar nessa seara da educação é um lugar muito amplo, porque a gente vê que existe uma desvalorização da educação, é um momento chave pra gente mudar isso, pra ter um olhar mais cuidadoso, com as crianças a partir de agora.”

O que você espera pra ele?

Igor - “Acho que a gente tá reaprendendo muita coisa, talvez a gente não esteja nem dando conta, com tanta informação nova, é só olhar, o mundo no estado que tá, a gente tá realmente num grande conflito, largar conceitos antigos e se adequar a um novo que é sobre respeito, que é sobre coletividade, sobre eu respeitar você e você me respeitar e a gente conseguir construir juntos um lugar harmônico. Até pensei numa época em colocar meu filho numa escola pública, pra que ele colocasse o pé no chão, pra que ele não crescesse nesse lugar de privilégio, entendendo que o mundo é só um grande arco íris e que tá tudo bem. Mas ao mesmo tempo, eu estudei em escola pública, eu e Aline pensamos, se a gente pode proporcionar um estudo de qualidade pro nosso filho que ofereça uma amplitude de aulas de treinamentos, é a potencialização dele, então a gente optou por uma escola particular que é excelente na verdade, que é uma escola meio construtivista.”

E com a decisão de mantê-lo na escola particular, o que você e Aline conversam sobre como não deixar o Antônio viver numa bolha?

Igor – “A gente desenvolveu um projeto de levar ele pra ver o mundo, pra que ele veja as outras realidades. Eu sinto que ele tá crescendo com muito amor, muito cuidado, a gente trabalha muito pra suprir ele de todas as formas, mas infelizmente, essa não é a realidade de todas as crianças, eu não quero que ele seja um cara alienado no futuro, eu quero que ele seja um cara consciente e na medida do possível, dentro das condições dele ser um agente de transformação, porque eu acho que a gente tem que criar esses agentes de transformação, se a gente quer ver a transformação”


Para ler o restante da entrevista, cliquei aqui e veja na Revista Liv edição 70ª.

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