Lei de causa e Afeto

Como uma lei universal, o círculo vicioso dos complexos parentais contamina gerações e gerações.

04/11/2020 12:18 / Por: Leila Loureiro
Lei de causa e Afeto

Caio nunca respeitou suas companheiras. Apesar de amá-las, é sempre infiel, agressivo, mitômano. É um executivo de sucesso, mas gasta todo o seu dinheiro em apostas. Tem sempre azar, no jogo e no amor.

Ele passou sua infância servindo de álibi para seu pai, que o levava para assistir a corridas de cavalos, deixando-o por lá, enquanto fugia para o motel mais próximo, onde passava a tarde com amantes.

Lia tem personalidade forte. Seu ex-namorado Carlos pediu que ela lhe servisse um prato no almoço de domingo, na casa dos seus pais. Ao que imediatamente ela respondeu: “Você não tem braços? Sirva-se sozinho!”. Ela se orgulha de ser esperta. Ninguém a faz de besta. Troca de namorado a cada semestre, pois nela ninguém manda. No entanto, sente uma angústia no peito que não sabe explicar.

Em sua infância, Lia cresceu vendo seu pai oprimir sua mãe, sempre muito submissa. Quando tinha oito anos, foi proibida de ir na festa de uma coleguinha porque seu pai não deixou sua mãe sair com “aquela roupa”. Então Lia pensou: “quando eu crescer e namorar, eu quero ser meu pai. É mais legal e dói menos”.

Como uma lei universal, o círculo vicioso dos complexos parentais contamina gerações e gerações. Heranças inconscientes. Dores inexplicadas pelo corpo e pela alma. Para cada efeito, uma causa. E enquanto esta não for revelada, não há cura, não há calma.

E o baile segue. 

Maria é agressiva, seu pai a violentou. Pedro morre de medo, sua mãe o abandonou. O antídoto? Não tem mistério. Helena ama tranquilo, um monge a adotou. Matheus é um cara leve, seu avô lhe deu muito amor. A equação é matemática, no quadro negro da vida, no fundo falso da alma, lugar secreto. Eis a Lei da Causa e Afeto.

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