O seringal em pinceladas

Obras inéditas do mestre Portinari estão expostas em Belém até final de julho

16/07/2012 10:51 / Por: Lorenna Montenegro/ Foto: Oswaldo Forte e Divulgação
O seringal em pinceladas

A Belém de outrora, da Belle époque - aquela que habita nossos sonhos dourados, foi majoritariamente financiada pela goma elástica saída dos seringais. Quase quarenta anos após desse período áureo da borracha, um artista único teve sensibilidade e criatividade necessárias para traduzir a dinâmica dos trabalhadores que faziam da extração do látex seus ofícios, enriquecendo seus senhores e a cidade. Cândido Portinari recebeu do  Banco de Crédito da Borracha (atual Basa) a encomenda de fazer um mural com essa temática. Pesquisou em seringais, viu seringueiros e observou que a borracha foi bem mais do que um mero produto de exportação.

“Portinari ficou conhecido como um pintor social pois levou os trabalhadores e suas duras vidas para as telas e obras. O teatro da vida é sempre mais colorido, misturando trabalho, natureza e arte”, esclarece o curador da exposição, o historiador Aldrin Figueiredo. De acordo com ele, "é pelo traço único de Portinari que passamos em revista a narrativa visual do passado no presente". “O suor do trabalho e o leite viscoso da seringueira revelam o cotidiano de uma economia que a fez a riqueza de poucos e a pobreza de muitos. Mas, o conjunto da obra, que seria um grande mural da própria história da borracha, conta uma história em vários atos; história que está longe de terminar”, enfatiza.

A obra, que está sendo exposta em Belém por ocasião dos 70 anos do Banco da Amazônia, trata-se de um estudo feito à óleo sobre cartão, que serviria de modelo para um gigantesco mural, a ser construído sob a influencia de artistas mexicanos como o muralista Diego Rivera e  José Clemente Orozco.

“Nessa época, na década de 1950, Portinari fez também os grandes painéis como "Guerra e Paz" à convite do governo Brasileiro para a ONU e era o nosso pintor de maior projeção internacional. A obra que estamos expondo é muito significativa, pois entre as infinitas imagens da Amazônia, "O Seringal" talvez seja a mais densa e eloquente. Um emblema, um símbolo e, ao mesmo tempo, a própria história que remonta àBelle Époque equatorial”, acrescenta o curador.

Ao fim da visualização das obras, há um núcleo com a biografia de Cândido Portinari, que faleceu em 1962 e pintou quase cinco mil obras (de pequenos esboços a gigantescos painéis). A artista visual e museóloga Nina Matos conta como pensou a expografia da mostra: “Estamos expondo a obra original, uma reprodução dela em escala maior remetendo ao mural que nunca foi executado, reproduções de trabalhos de Portinari alusivos à temática dos seringais e os textos da curadoria que trabalham recortes do tema abordado pelo pintor. Compõe, ainda a mostra, o filme “Soldados da Borracha” de César Garcia Lima, que já participou de vários festivais de cinema”.

E mesmo com o fim da exposição neste mês, a Amazônia no traço e nas cores do pintor Cândido Portinari ainda renderá mais eventos. Nina adianta que em agosto, será feito o lançamento de uma publicação contendo a pesquisa de Aldrin sobre o assunto, acompanhado de realização de uma palestra sobre a visão de Portinari dos seringais e da própria Amazônia.

 

Serviço:
Exposição “Seringal”. Período de Visitação: até 31 de julho, das 8h30 às 17h30.
Local: Espaço Cultural do Banco da Amazônia (Avenida Presidente Vargas, 800, Campina).
 

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