Poesias concretas

Vamos falar de amor, ou melhor, de histórias marcantes que viraram verdadeiras obras de arte, atravessaram épocas, fronteiras geográficas e que encantam até hoje.

25/06/2012 10:15 / Por: Tyara de La-Rocque / Foto: Dudu Maroja
Poesias concretas

Nada de flores, nem cartas e muito menos serenatas de amor para a mulher amada. Eles expressaram o seu amor em poesias petrificadas. Às suas respectivas mulheres, o engenheiro Francisco Bolonha e os imperadores Dom Pedro I e Shah Jahan, ofereceram monumentos como símbolos de amor. Enamorados, eternizaram o sentimento em construções e mais do que imponentes prédios arquitetônicos, deixaram para a história, belos gestos de ternura e paixão. Palacete Bolonha, no Pará, Solar da Imperatriz, no Rio de Janeiro e Taj Mahal, na Índia: três presentes que, tempos depois de construídos, permanecem vivos, encantam e entusiasmam os corações mais sensíveis. São materializações do famoso frio na barriga e da conhecida sensação de “borboletas no estômago”.

Com ares europeus, retrato de uma época de fartura econômica, o elegante Palacete Bolonha se destaca aos olhos de quem passa pelo final da avenida Governador José Malcher, em Belém. Uma das obras arquitetônicas mais belas e luxuosas do Pará, construída pelo engenheiro e arquiteto paraense Francisco Bolonha, está entre as construções que compõem o belo cenário dos prédios históricos na Cidade das Mangueiras. O que muitos podem desconhecer, é que o monumento foi um presente de Bolonha à sua esposa, Alice Tem-Brink.

Pensando no bem estar da amada, Bolonha construiu uma edificação que estivesse à altura do conforto que Alice tinha no Rio de Janeiro, onde residia antes de mudar-se para a capital paraense. Ambientes especiais da casa, como o salão de costura e a sala com os guarda-roupas, por exemplo, demonstram o cuidado de Bolonha para que o local tivesse realmente ao agrado da companheira. Pianista e bailarina, a companheira do engenheiro também ganhou um espaço para dedicar-se a música e promover as festas e recitais no lar. “O gosto pessoal de Alice com certeza influenciou em toda a obra arquitetônica, pois, certamente, Bolonha queria agradá-la”, diz o professor de Arquitetura e Urbanismo Euler Arruda e autor do livro “Palacete Bolonha: uma promessa de amor”. O prédio é um ícone na cidade, além de um registro histórico do início do século XX, época da economia da borracha em Belém, conhecida como Belle Époque.

A tipologia do Palacete Bolonha é bastante particular e traz nos elementos decorativos a luxúria da burguesia europeia do período. O gozo do conforto é claramente visto na riqueza de ornamentos do edifício e até mesmo no estilo neoclássico da decoração. Os cômodos bem divididos, e principalmente a distância entre os quartos das visitas e dos donos da casa marcam traços característicos da burguesia europeia.

No admirável palacete, fonte de estudos, patrimônio cultural existe o registro de uma história de amor. Lá está uma parte do romance de Francisco e Alice. Além de uma antiga declaração amorosa capaz de arrancar suspiros até hoje.

Um solar, uma (nova) imperatriz
Um século antes, outra mulher teria sido a musa que motivou a construção do Solar da Imperatriz, um dos poucos exemplares da arquitetura rural dentro do Rio de Janeiro. Amélia de Leuchtemberg, a italianinha de 17 anos que conquistou o coração de Dom Pedro I, foi trazida ao Brasil pelo Marquês de Barbacena para ser a segunda esposa do Imperador – até então, visto como infiel pelas cortes europeias, graças ao famoso envolvimento com Domitília de Castro e Canto Melo.

Para abrandar o coração de sua nova amada, Dom Pedro I teria provado o seu amor de várias maneiras; fosse instituindo ordens honoríficas inspiradas em Amélia (a Ordem da Rosa, insígnia nacional, foi desenhada a partir dos motivos florais de seu vestido ao chegar ao Rio), reformando uma antiga casa de engenho – ou bradando seus ciúmes a todos. Porém, a maior delas teria sido a reforma de uma antiga casa de engenho, desapropriada por Dom João VI, para presenteá-la. Embora os documentos históricos sejam um tanto falhos e contraditórios a respeito, o Solar da Imperatriz ainda é estudado como um registro arquitetônico do histórico romance. O presente seria um local de passeio, visto que Amélia nunca teria morado lá.

Na simplicidade reside todo o charme da edificação. Logo na entrada ainda é possível passear por entre as palmeiras imperiais – com mais de 50 metros de altura – e o casarão ainda abriga a decoração que guarda vestígios do tempo da realeza. O estilo lembra antigas fazendas, com grandes janelas, varanda e uma extensa área verde ao redor, dando um viés bucólico e lírico ao local. Um projeto extremamente cuidadoso e delicado, desde o pórtico de entrada até os detalhes nas portas e escadarias.

Naturalmente, as instalações sofreram algumas transformações e adaptações ao longo do tempo. Depois de um longo período em deterioração, o nome Solar da Imperatriz foi oficialmente reconhecido e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1973. 25 anos depois, ele foi restaurado e passou a hospedar a Escola Nacional de Botânica Tropical. Hoje, sua antiga capela foi transformada em auditório, a senzala deu lugar a uma cafeteria e os quartos, agora, são salas de aula.

Símbolo da memória social do Brasil Império, o presente apaixonado cravado no coração do Jardim Botânico é uma relíquia histórica e moldura para trocas de carinho e outros enredos amorosos até os dias de hoje.

A joia do palácio
Localizado em Agra, na Índia, muitos já conhecem por fotografias o ilustre Taj Mahal. Considerado uma das sete maravilhas do mundo, estando entre as mais belas obras arquitetônicas indianas, o Taj Mahal é fruto do amor entre o imperador Shah Jahan e sua esposa, a princesa persa mulçumana Aryumand Banu Begam. Diz a história que o destinos dos pombinhos se cruzaram acidentalmente na adolescência, e a feliz coincidência tornou possível a união do casal para todo o sempre. Apaixonado, Shah Jahan esperou cinco anos para a cerimônia de casamento com sua amada. O matrimônio, realizado em 1612, foi o momento em que o imperador rebatizou a princesa com o nome de Mumtaz Mahal, que significa a “jóia do palácio”.

Diferente dos contos nos livros, o fim desse romance não teve o romântico “e viveram felizes para sempre”. Mumtaz Mahal morreu em 1631, aos 39 anos, ao dar a luz ao décimo quarto filho. Tristonho e inconformado com a perda da amada, Shah Jahan providenciou a construção de um monumento sem igual na Índia, para que a existência de sua grande paixão fosse eternamente lembrada.

O Taj Mahal foi construído sobre o túmulo de Mumtaz Mahal, junto ao rio Yamuna. Para o levantamento desse mausoléu, foi necessária a força de cerca de 20 mil homens vindos de várias cidades do Oriente. Devidamente enquadrado num jardim simétrico, o edifício é cruzado por um canal ladeado de ciprestes onde é refletida a sua imagem, flanqueado por duas mesquistas, cercado por quatro minaretes, incrustado com pedras semipreciosas, como o lápis-lazúli e uma cúpula costurada com fios de ouro. Posteriormente, quando faleceu, o imperador foi sepultado ao lado de Mumtaz Mahal.

Visitado por milhões de turistas, o Taj Mahal já foi fonte de inspiração de poetas, pintores e músicos que, de alguma maneira, tentaram capturar em forma de palavras, cores e sons, a magia ali presente.

Mais que uma ode ao amor, essas homenagens arquitetônicas representam toda a eloqüência que este sentimento pode ter. São um convite a acreditar que a mágica experiência do amor pode realmente eternizar-se.
 

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