Um mundo nos ombros

Elas são consideradas companheiras inseparáveis de muita gente, mas há quem dispense o peso das bolsas.

13/03/2012 14:59 / Por: Thiago Freitas / Fotos: Dudu Maroja
Um mundo nos ombros

Elas existem em diferentes estilos, tamanhos, cores e formatos e são consideradas indispensáveis no dia a dia de qualquer pessoa – seja no trabalho, em ocasiões sociais ou em descompromissados passeios nos fins de semana. As bolsas, acessórios cobiçados por nove entre dez mulheres (e mais recentemente alvo de consumo da classe masculina, também) refletem diretamente a personalidade de seus proprietários e guardam muito mais do que celulares, agendas e chaves. Não seria exagero afirmar que as bolsas são verdadeiros refúgios para segredos e mistérios e, por isso mesmo, há quem opte por tipos mais discretos. Um olhar mais atento perceberá que a moda nas ruas é democrática: o desfile urbano é generoso, há bolsas para todos os gostos – e bolsos –, dos modelos que privilegiam a praticidade, em sintonia com a correria do cotidiano, aos de apelo fashion, criativo.

No mundo da moda, este acessório é símbolo de status e as mais renomadas grifes lançam coleções exclusivas e luxuosas, que viram objetos de desejo. Acompanhando tendências, as bolsas sofreram uma transformação significativa em relação ao tamanho. No comecinho da década passada, as maxi-bags eram sucesso e nelas cabiam, além dos objetos essenciais, o computador, a maquiagem e ainda sobrava espaço. Com a revolução tecnológica (smartphones, tablets, e ultrabooks – finíssimos e levíssimos netbooks), elas vêm diminuindo consideravelmente, “obrigando” seus usuários a organizar os pertences em um espaço um pouco menor.

Surpreendente, sempre
Não importa o tamanho da bolsa ou o espaço disponível: o conteúdo, na maioria das vezes, é inusitado. Nunca se sabe o que será descoberto nestes pequenos “universos”. Pensando nisso, a Revista Leal Moreira se aventurou invadir a intimidade de algumas pessoas para descobrir a relação delas com esse acessório.

Mais de 60 peças
A empresária Mara Pinheiro, 40 anos, confessa (sem a menor culpa) sua paixão incontrolável por esse artefato. “Não sei o número exato, mas estimo que na minha coleção tenha mais de 60 peças. Elas são de diferentes estilos, cores e tamanhos e gosto de cada uma delas”. No dia a dia, Mara possui três bolsas oficiais: duas com itens de necessidades básicas e a outra para eventuais emergências. “Como eu trabalho com eventos, sempre guardo uma bolsa no carro e se, por ventura, aparecer algum compromisso inesperado, estarei preparada”, diz.

Entre agendas, iPads, estojo de maquiagem, remédios, cartões de crédito, talão de cheque, contas, chaves, celular, bloco de notas e chicletes, a empresária conta que a organização nas bolsas é quase impecável. “Nunca ando com uma só. Elas são a solução dos meus problemas, tudo de que eu preciso está lá. Algumas são reservadas para determinadas ocasiões e já estão com os itens específicos”. Para Mara, a bolsa não é somente um simples acessório que complementa o visual, pois nela está contida praticamente uma parte de sua vida. “Trabalho no centro e moro em Ananindeua e muitas vezes não tenho tempo de voltar em casa, então elas estão sempre comigo”.

No imaginário popular, um bordão ainda é constantemente invocado: “Nunca abra a bolsa de uma mulher, nem olhe dentro, muito menos mexa nela”. Segundo a empresária, a bolsa de uma mulher é um mundo só dela e é possível “encontrar de tudo um pouco”. “Ninguém mexe nas minhas. Além dos meus objetos, elas carregam alguns segredos”. Ela explica ainda que apesar do número excessivo de bolsas, o apego a elas é mínimo. “Quando elas não me servem mais, eu repasso. Para mim, elas precisam ser utilizáveis. Cada uma tem seu ciclo”, finaliza.

Mínimo indispensável
Mas não são todas as mulheres que cedem à vaidade de colecionar inúmeras bolsas. A modelo Giovana Pimentel, por exemplo, passa longe desse vício. Ela vive (muito bem, obrigada) sem este acessório. “Não uso qualquer tipo de bolsa; só em ocasiões especiais, como um jantar, por exemplo. Mesmo assim, só a levo se souber que vou ficar sentada a maior parte do tempo”, afirma. Nem sempre foi desse jeito: há algum tempo, as bolsas faziam parte do cotidiano de Giovana, mas eram sempre desorganizadas. “Minhas bolsas eram desordenadas e eu perdia muitas coisas. Em média, ‘desapareciam’ uns oito celulares por ano”, confessa entre risos.

Depois de simplificar sua vida, a modelo garante que somente dois itens são indispensáveis ao dia a dia: um porta-cédula e o celular. “Tenho um que salva minha vida e nele estão todos os meus documentos. Às vezes eu até sinto falta de andar com uma bolsa, mas sem elas tudo fica muito mais simples”, comenta. Por outro lado, Giovana conta que em determinadas ocasiões fica embaraçoso pedir para os amigos levarem seus pertences.
“Minha melhor amiga já está acostumada. Antes de sairmos, ligo e pergunto com qual bolsa ela vai sair para eu saber o que posso levar a mais”, diz. E complementa: “Quando a companhia não é uma amiga, o namorado fica responsável pela tarefa”.

Além de modelar, Giovana também cursa a faculdade de Direito e ambas as profissões exigem um cuidado maior com o visual, seja pela formalidade ou pelo estilo. A estudante confessa que ainda não se preocupa com este tipo de pressão. “Sei que um dia vou precisar usá-las, mas por enquanto, estou satisfeita sem elas”.

Eles também usam

Em meio à rotina do Fórum Criminal, o Defensor Público Daniel Sabbag revela que as bolsas organizam e otimizam sua vida. “Não vivo sem elas”, pontua. Ao todo são quatro mochilas diferentes que servem para propósitos específicos. “Uma para academia, outra para o tênis, uma para o clube e a maior, para o dia a dia”, detalha, acrescentando que os modelos precisam ser práticos, com compartimento para diversos itens. Ele explica que a praticidade é mais do que essencial. “Procuro ponderar custo e benefício, pois elas precisam ser funcionais”.


O defensor já perdeu a conta de quantas bolsas já fizeram parte da sua vida e frisa que desde sempre elas têm sido suas fiéis companheiras, independentemente do destino escolhido. A maior delas, segundo Daniel, é uma extensão de seu escritório e os objetos que ela carrega são inúmeros: computador, canetas, carregador, livro, cadernos, documentos e um videogame portátil. “Sei que encontrarei nela todos os itens, devidamente arrumados“, justifica.

Apesar de possuir quatro mochilas diferentes, Daniel fica sempre atento se por acaso acontecer algum acidente com uma delas. “Sempre tenho uma substituta em vista. Pesquiso o preço e se ela é compatível com as minhas necessidades”, diz, pontuando que elas duram 3 anos, em média. O defensor público tem duas filhas, de 2 e 6 anos, e ambas já herdaram a compulsão do pai por este acessório. “Apesar de ter apenas 2 anos, a caçula já guarda todos os brinquedos na mochila e os leva para onde for. A mais velha é um pouco mais desligada, mas mesmo assim não larga a mochila”.

ESTILO E SEGURANÇA

Para o fisioterapeuta Júnior Furtado, membro da SONAFE (Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva), o risco de usar uma bolsa com sobrecarga é real. “O perigo está no peso que a bolsa faz sobre as articulações e nas compensações executadas pela musculatura estabilizadora da coluna vertebral, afetando áreas como o ombro e acrômio-clavicular”, pontua. Alguns critérios precisam ser levados em consideração na hora de escolher o acessório, entre eles a proporção do tamanho da bolsa em relação à altura da pessoa. “As de duas alças são mais interessantes que as de apenas uma (alça), mas se você optar por uma bolsa de alça única, ela deve ser usada preferencialmente transpassada, de modo a evitar muita sobrecarga na coluna”, completa Furtado.

E se for inevitável levar muito peso, as mochilas com as duas alças são as melhores opções e conseguem preservar a coluna vertebral. “No uso de mochilas com duas alças, é importante medir o tamanho das alças para que fiquem de forma proporcional, adequadas. Para as crianças e adolescentes em fase de crescimento, o melhor seria evitar a sobrecarga, mantendo o material escolar em armários nas escolas”, comenta.

Ainda segundo o especialista, o peso ideal varia de indivíduo para indivíduo. Estudos referendam o equivalente a 10% da massa corporal como pesagem máxima de carga em bolsas e mochilas. “É preciso também levar em consideração o fator idade (crianças e adolescentes em fase de crescimento)”, frisa. O fisioterapeuta aconselha alguns exercícios que ajudam a melhorar eventuais dores. “Os alongamentos dos grupos musculares da região escapular, além da musculatura estabilizadora da coluna cervical e dorsal são recomendados”.

ALGUMAS DICAS
• Primeiramente, verificar se os objetos que você colocará em sua bolsa são realmente úteis à sua rotina. Se não, escolher os que forem necessários;
• Procurar alternar entre os ombros a bolsa para uma sustentação melhor. Evitar carregá-la de um só lado;
• Se possível, optar por bolsas que possuem alças transversais;
• Dê preferência para objetos com embalagens pequenas, como produtos de higiene e maquiagem, para economizar espaço e não pesar na bolsa.

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