

Um dos grandes templos vivos da arte em Belém, o Theatro da Paz completou 136 anos recentemente. Seus frequentadores e fomentadores só têm a comemorar: passados vários momentos históricos, desde sua fundação em 15 de fevereiro de 1878 - período áureo do Ciclo da Borracha no Pará – até hoje em dia, pode-se dizer que o teatro se renova em popularidade a cada ano. Mas não foi sempre assim.

Ela revela que o que chamou sua atenção no Theatro da Paz foi a beleza que ele apresentava, além dos majestosos espetáculos que ele abriga ainda hoje. “É um lugar diferente. Não tem nada em Belém que seja tão lindo e misterioso quanto o Theatro da Paz. Ele sempre foi e continua sendo um lugar de espetáculos grandiosos. Ele pede espetáculos à altura do que ele é, da sua beleza. Às vezes pode não ser grandioso de superprodução, mas é superlativo culturalmente. Por exemplo, quando Sebastião Tapajós vem aqui tocar violão. É ele, o instrumento e um banquinho, mas é imponente na qualidade musical”.

O teatro, além de um lugar de grandes eventos, é essencialmente uma das formas mais antigas de expressão do ser humano, graças às suas origens na Grécia da antiguidade. Para Maria, a sociedade deve percebê-lo como tal. “As pessoas deveriam ver o teatro como Shakespeare quis defini-lo - um espelho da sociedade. Ele mostra a sociedade a si mesma, e isso é importantíssimo. É a uma maneira de você se enxergar, e de colocar diante de si os problemas da sua própria sociedade - até porque ela sempre apresenta problemas éticos”, analisa. “Não tem outra definição para o teatro. Mesmo
quando a peça é ruim, ela demonstra um segmento que existe - seja a futilidade ou uma maneira pouco real de encarar a vida. Não estou falando de interpretação e sim do que está sendo mostrado. É uma mostra do que existe na sociedade”.

Para Nunes, o teatro é uma porta para o universo humano. As pessoas, portanto, devem perceber essa capacidade e procurar viver aa experiência: aceitá-lo como representação, usá-lo e compartilhá-lo, seja como público crítico ou como fazedor desta arte. “Quem não vai ao teatro está perdendo coisas maravilhosas e nem sabe... Uma das melhores coisas da vida. Estamos em uma época tremendamente materialista. O teatro é uma oportunidade para deslocar você do próprio ego. Naquele momento, você pode ser o outro, extrapolar o ego, o seu mundo particular, e viver uma viagem em todos os sentidos. Ele deixa você experimentar coisas que você não poderia de outro jeito; coloca sua imaginação para funcionar, ensina a ter empatia com outras coisas. É uma maravilha”.
Isso tudo sem falar na ópera, um espetáculo à parte. Segundo a teatróloga, “era um sonho do maestro alemão – que também era compositor, diretor de teatro e ensaísta conhecido por suas óperas – Wilhelm Richard Wagner juntar todas as artes em uma só: visuais, musicais e da palavra”. A arte sempre foi muito apreciada, desde sua origem (também na Grécia antiga) até a atualidade. O Theatro da Paz é um dos grandes vetores desta arte em Belém, que a viu renascer com a ajuda de seu colaborador mais fiel e devotado: Gilberto Chaves, o coordenador artístico do Festival de Ópera e da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz.
Apreciador de música e verdadeiro entusiasta da ópera no Pará, Gilberto Chaves conta que os cem anos de silêncio no Theatro foram quebrados em 2002, quando Gilberto – por indicação do secretário de cultura da época, o Paulo Chaves – dirigiu não só o Theatro da Paz, como também a ascensão deste segmento nacionalmente. Com o trabalho, também veio o reconhecimento. “A ópera no Pará foi reinventada, e eu fui a pessoa confiada a ficar à frente nesta época. Demos ao festival o prestígio nacional que ele tem hoje. Estou apenas na coordenação do festival, e na artística da orquestra sinfônica. E eu faço isso por espontânea vontade, por amor. Eu não tenho remuneração para isso. De manhã, trabalho na minha área, que é
a advocacia; à tarde e à noite, me dedico ao festival. É preciso um ano de dedicação para acontecer. Faço isso por amor à arte”.

Ele conta que, no começo, a música era sua grande aliada. Seu interesse começou muito cedo. Teve dedicação espontânea para saber mais sobre o universo que tanto o encantava, e agora segue devolvendo o conhecimento que adquiriu ao longo da vida. Hoje, esse conhecimento é transformado em belos festivais coordenados por ele – mas com uma equipe que faz jus à sua alcunha. “A música na minha vida veio por meio do meu avô, e por uma vizinha que era a viúva do famoso maestro Meneleu Campos – que será, inclusive, tema de um concerto ainda este ano aqui. Foi ela quem me deu as primeiras orientações. A paixão veio em seguida, me tornei um autodidata. Fui crescendo e continuei procurando conhecer mais, nos teatros do Brasil e do mundo. Hoje eu doo esse meu “know how” e minha paixão para o Theatro, porque se não tivesse essa paixão seria muito difícil. É preciso ter verdadeira entrega e uma equipe inteira muito devotada – coisa que meus companheiros de teatro fazem com muito entusiasmo - para que se torne um sucesso”.
É bom lembrar que, diferente do que muita gente pensa, a ópera em Belém tem muitos fãs. Eles estão sempre procurando saber quando começa a próxima temporada, deixando o Theatro da Paz repleto de visitantes todos os anos e com visibilidade incrível. “O Theatro é lotado o tempo todo, o público acompanha. E é um espetáculo muito aberto e democrático. Ainda temos a tradição de fazer um espetáculo ao ar livre para o público, sem custo. Todos aguardam com bastante expectativa, e é sempre um sucesso. Isso faz com que o nosso ‘velho Da Paz’ de 1878 se insira no contexto cultural brasileiro. Em 2002, entramos neste circuito e hoje somos vistos como ‘os festivais do Norte’. Temos espaço na mídia nacional como um estado capaz de produzir cultura de alto nível, até mesmo pelos próprios paraenses – afinal, todo povo se orgulha da sua cultura”, diz Gilberto. E defende: “a cultura eleva a alto estima, então nós não podemos nos amofinar, como diz o bloco. Temos que responder para a América Latina e pro Brasil que temos um teatro dos mais bonitos do mundo e que ele não é um fantasma. Ele está vivíssimo, assim como a nossa cultura”.

Dentre as novidades que estão sempre direcionando o Festival de Ópera nesses últimos quatro anos, a última, segundo Gilberto, foi a transmissão ao vivo do festival para outros municípios do estado, fazendo com que mais pessoas pudessem viver o que a ópera oferece. “Conseguimos que a TV Cultura fizesse a cobertura do festival ao vivo para 143 municípios pela televisão - que não é a mesma coisa de estar aqui ao vivo, claro, mas já é algo que se pratica na Europa, em países asiáticos, nos EUA e na Inglaterra. Isso multiplica o conhecimento. Um segundo diferencial da nossa ópera é que ela é a única na América latina que edita o que é apresentado para que as pessoas possam adquirir e levar para casa. Isso é não só materializar história: é memorizá-la e transformá-la em fonte de consulta futura”.

Quem nunca foi ao teatro ou viu uma ópera pode estar perdendo uma vivência muito rica da história da humanidade. Chaves explica o porquê: “a ópera vai levar para o cidadão comum uma nova experiência e conhecimento; um legado antigo, de cinco séculos. Uma arte que triunfa no mundo, bem viva. Nós estamos retomando uma das vertentes da cultura ocidental, e todos precisam conhecer isso”. E engana-se quem pensa que é uma manifestação artística complicada e de “outro mundo”. Gilberto acredita, e procura aplicar isso aos festivais daqui, que “a ópera deve ser direta e objetiva. Não deve ter essa mania - que parte do mundo tem - de falso intelectualismo, de querer complicar uma história que foi feita para ser simples, ou transformar uma música que foi feita para ser entendida em algo difícil. A opera não é difícil, nasceu para ser fácil. E o caminho de quem monta, de quem coordena, deve ser o de procurar o entendimento da plateia, para que o frisson possa existir entre o público e a obra”.
Comentários
Neal Adams
July 21, 2022 at 8:24 pmGeeza show off show off pick your nose and blow off the BBC lavatory a blinding shot cack spend a penny bugger all mate brolly.
ReplyJim Séchen
July 21, 2022 at 10:44 pmThe little rotter my good sir faff about Charles bamboozled I such a fibber tomfoolery at public school.
ReplyJustin Case
July 21, 2022 at 17:44 pmThe little rotter my good sir faff about Charles bamboozled I such a fibber tomfoolery at public school.
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