
Ser reconhecido nas ruas provavelmente não está entre os motivos que levam alguém a escolher a advocacia. No entanto, este pode ser um resultado tão natural quanto inesperado. É o que acontece com o paraense Ophir Cavalcante Júnior, atual presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, toda vez que volta a Belém, sua cidade natal. “Sempre que vou à feira, alguém me cumprimenta. Muitas pessoas já vieram me dizer que têm orgulho de ver um paraense chegando ao cargo em que estou agora”, conta. Mas não há vaidade nessa declaração. “Eu fico muito sem jeito quando isso acontece.”
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"O conceito de cidadania deve nortear as ações da Ordem" |
Por trás de um profissional que precisa ter sempre uma opinião formada sobre tudo (polêmica, de preferência), está um cidadão simples, fanático pela culinária paraense (peixe e farinha de mandioca não podem faltar na despensa) e acima de tudo workaholic. São quase 30 anos de advocacia, profissão à qual dedica perto de 50% das horas de cada dia. Mas o ocupante de um dos cargos mais importantes do Brasil quase optou por um caminho bem diferente: ser goleiro de futebol. Jogava no Paysandu e foi das categorias de base do clube até os juvenis, mas precisou deixar o esporte quando entrou na faculdade. Em vez de defender gols, resolveu defender a sociedade. Em Belém, Ophir Cavalcante Júnior recebeu a Revista Leal Moreira para uma conversa sobre o trabalho como presidente da OAB, a rotina do cargo e a relação com a família.
Como se constrói a carreira de um advogado que milita em uma instituição como a OAB?
Eu quero crer que o caminho é um só: o caminho do trabalho com seriedade, com ética, responsabilidade e construindo sempre pontes. A advocacia de um modo geral está acostumada a derrubar muros e construir pontes no sentido de fazer um alinhamento da lei com o fato social. O advogado, no seu dia a dia, convive com os dramas humanos, com as situações que pedem a sua intervenção para resolvê-las. Quando você constrói uma carreira em cima desses pressupostos, há um reconhecimento natural por parte dos seus colegas que, de certa forma, te habilita a exercer ou se candidatar a um mandato em nível de OAB. E, a partir daí, usar a estrutura da Ordem para continuar a defesa desse alinhamento entre lei e fato social, mas fortalecendo a advocacia. E aí entra uma equação que eu costumo dizer que é muito presente na vida do advogado: advocacia forte, OAB forte, cidadania forte.
Além de todos esses valores, é preciso fazer um pouco de política para chegar a este cargo?
Sem dúvida. A política é a arte de transformar. Ela tem que ser bem utilizada para poder abrir caminhos, possibilitar diálogos e, sobretudo, evoluir no sentido de conhecer quais os dramas da sociedade, os seus anseios e, a partir de tudo isso, se conseguir transformar as estruturas hoje existentes em estruturas melhores.
A OAB é sempre muito visada pela imprensa quando se busca uma opinião do presidente sobre leis, cidadania, direitos humanos. É uma responsabilidade muito pesada a obrigação de ter sempre uma opinião formada sobre tudo?
É um desafio diário. Muitas vezes a gente é surpreendido por um projeto de lei apresentado, uma decisão judicial estapafúrdia, uma situação inusitada em termos de conduta não-ética por parte de governantes e políticos. A gente tem que ter muita tranquilidade, equilíbrio e firmeza. Sempre é preciso ter ao nosso lado o conceito da cidadania, a defesa das instituições a partir da visão cidadã. É isso o que eu tenho procurado fazer. E acima de tudo, usar o bom senso e refletir o desejo da sociedade que quer um país melhor, mais justo, com diminuição das desigualdades e onde haja ética.
Também é fundamental ser bem informado. Como é sua rotina para ficar por dentro das notícias?
A internet dá a possibilidade de a gente até se antecipar aos fatos. Antes de dormir, geralmente eu dou uma olhada na internet para conhecer as notícias mais importantes e as discussões mais atuais. De manhã cedo, recebo um clipping de imprensa que eu leio antes de sair de casa, com as notícias mais destacadas.
Alguma vez o senhor já foi procurado por um jornalista que queria uma opinião diferente da que o senhor tinha?
Isso com certeza acontece. Além do compromisso que tem com a imprensa de dar subsídios e esclarecer situações, a Ordem também tem um compromisso com os advogados e a sociedade. E nem sempre a Ordem vai dizer aquilo que a imprensa gostaria de ouvir. Isso ficou muito claro em relação ao sigilo profissional dos advogados que têm que ouvir seus clientes em penitenciárias de segurança máxima. Foi aquela questão do Rio de Janeiro, da divulgação de que dois advogados haviam servido de pombo-correio para traficantes. E aí o sentimento naquele momento da sociedade e da imprensa era de que a Ordem não só condenasse previamente os advogados, mas que se posicionasse no sentido de que poderia haver uma mitigação desse instituto que protege o cidadão e a sociedade. E a Ordem se manifestou contrária a isso, justificando o porquê. Naquele momento, não atendemos ao anseio da imprensa.
Quantas horas por dia o senhor trabalha?
Vinte e quatro horas por dia. (risos) Na verdade, a minha rotina das 9 da manhã às 10 da noite é de trabalho. Eu só tiro pouco tempo para dormir um pouco, fazer uma caminhada de manhã cedo, ir à academia... Mas é trabalho o tempo todo, seja viajando para todos os estados do Brasil, fazendo palestras, participando de atos com a advocacia, seja em Brasília, onde estou com residência mais fixa, indo ao Congresso Nacional para fazer interlocução com parlamentares. Enfim, exercendo o cargo na sua plenitude. Isso me ocupa praticamente o dia inteiro. São 12 horas de trabalho alternadas com 12 horas de descanso.
Nessas horas livres, o que o senhor gosta de fazer?
De manhã, gosto de caminhar, correr e fazer uma academia. À noite, a leitura de um livro. Às vezes aproveito para rever alguma peça que precisa ser protocolada pela Ordem. Reservo das 9 da noite à meia-noite para fazer isso em casa, com mais tranquilidade.
O senhor vem com que frequência a Belém depois que assumiu a OAB nacional?
Não há uma rigidez nessa frequência. Até porque minha mulher e um dos meus filhos estão morando em Brasília. Procuro vir a Belém pelo menos toda semana, mas nem sempre é possível. Então tento fixar uma vinda à cidade de 15 em 15 dias para vir ao meu escritório, conversar com os sócios e os colegas, trabalhar, atender clientes... Afinal de contas, a Ordem é passageira. E depois de dois anos que ainda faltam para o fim do meu mandato, vou voltar pra minha raiz, que é o meu escritório aqui em Belém.
Sua família que continua em Belém lhe cobra muita atenção quando o senhor vem aqui?
Minha mãe e meu pai, que estão sempre aqui, me compreendem bastante. Outro filho meu que mora aqui em Belém com minha ex-mulher também. Quando venho aqui, sempre vou almoçar ou jantar com eles porque sinto muita saudade.
Em que momento da vida o senhor descobriu a vocação para a advocacia?
Minha família é uma família de advogados. Meu pai é advogado, meus tios paternos também. Pelo lado da minha mãe, as pessoas são mais voltadas para a medicina. A vocação efetivamente acabou nascendo quando ainda estava no segundo grau, quando tive que eleger a área que ia seguir. Acabei optando pelas ciências humanas, em razão da familiaridade pessoal com a matéria, sempre gostei muito de ler, gostava muito de história, apesar de gostar também de matemática. Fui até monitor de matemática na escola. Mas a área que mais me atraía mesmo era a do ser humano, lutar por uma situação melhor a partir da lei. Aí as coisas foram vindo aos poucos. Elegi direito e acredito que sou feliz. Se pudesse retornar a esta vida novamente, traçaria o mesmo caminho outra vez.
Um de seus filhos passou no vestibular em direito recentemente. O senhor o influenciava diretamente ou foi uma escolha natural?
Foi uma escolha natural. Tanto que o Caio, o meu filho mais velho que mora comigo em Brasília, faz engenharia mecatrônica. O mais novo, que passou em direito, é o Breno. Em tese, se tivesse que influenciar alguém, seria o filho mais velho. Mas isso não acontece, tal qual meu pai não teve influência direta sobre a minha escolha. Procurei deixar meus filhos sempre muito livres. Só dizia para eles uma coisa: aquilo que vocês escolherem, façam sempre o melhor. Se você quiser ser advogado, seja um bom advogado. Se você quiser ser um engenheiro ou médico, sejam bons profissionais. Procurem se esforçar não só para o destaque pessoal, mas para que você possa responder a tudo o que esperam de você.
O senhor tem outros irmãos que seguiram a carreira na advocacia?
Tenho duas irmãs. Uma é magistrada, vice-presidente do TRT da 8ª Região, Suzy Cavalcante Khoury, e a outra, Carla Cavalcante, é assessora do Ministério Público Estadual. Todos advogados, inscritos na Ordem. Mas como a Suzy entrou na magistratura, não pode exercer a advocacia. Todos na área do direito. E ainda casei com uma mulher que é procuradora do trabalho.
Que conselhos o senhor daria para jovens iniciantes que ainda estão buscando uma luz nesse caminho profissional?
Dedicação, trabalho, muito estudo, seriedade, honestidade, ética. Quero crer que não só para aqueles que desejam ser advogados, mas para aqueles que querem ser alguém na vida é importante nunca abandonar essas premissas, que são fundamentais para qualquer profissão. E ter paciência. O advogado, para construir uma vida tranquila e segura, precisa trabalhar muitos anos. Sobretudo quando vivemos numa estrutura morosa, como é a estrutura da Justiça brasileira. Então o advogado não pode querer enriquecer honestamente da noite para o dia. Quero crer que a gente tem um papel muito importante na sociedade. O advogado é um agente de transformação social. Ele pode através da sua palavra, do seu exemplo, ajudar a melhorar a estrutura da sociedade. E isso tudo porque ele defende duas coisas fundamentais na vida das pessoas: a liberdade e o patrimônio. Então, quanto emociona a gente ver uma pessoa que você ajudou através do teu saber jurídico ser vitoriosa numa ação, ficar livre depois de ter sido acusada de um crime injusto. Não há dinheiro no mundo que pague tudo isso.
Comentários
Neal Adams
July 21, 2022 at 8:24 pmGeeza show off show off pick your nose and blow off the BBC lavatory a blinding shot cack spend a penny bugger all mate brolly.
ReplyJim Séchen
July 21, 2022 at 10:44 pmThe little rotter my good sir faff about Charles bamboozled I such a fibber tomfoolery at public school.
ReplyJustin Case
July 21, 2022 at 17:44 pmThe little rotter my good sir faff about Charles bamboozled I such a fibber tomfoolery at public school.
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