Sucesso, sem pressa

Confira a primeira entrevista de Maria Rita para a Revista LiV, onde ela fala sobre a carreira, vida pessoal e prêmios.

24/02/2022 09:11 / Por: Esperança Bessa Fotos: Divulgação e Agência Estado
Sucesso, sem pressa

Em 2003 só deu Maria Rita. A filha da "Pimentinha" Elisa Regina já chegou com um sucesso estrondoso, muito em parte provocado pela curiosidade de todos aqueles que queriam enxergar nela uma sucessora da mãe, um mito da Música Popular Brasileira.

No ano seguinte o alvoroço foi se abrandando, e Maria Rita mostrou que tem muitos predicados próprios, que ultrapassam a semelhança física com Elis.

Ela recebeu três Grammys e foi eleita a revelação da música brasileira. Seu único disco, com uma seleção musical de primeira, levou novamente a boa MPB para dentro das rádios comerciais que costumam abrir espaço apenas para a música de massa. Ponto para Maria Rita.

Agora com a carreira mais que consolidada, a cantora demonstra calma para dar o próximo passo. Está preparando o segundo disco, e investindo numa carreira internacional. Aparentemente sem pressa, ela demonstra que está curtindo cada momento da carreira. A seguir, entrevista exclusiva com a nova musa da MPB que veio para ficar.


Living - Como você encara o fato de ser considerada, hoje, a maior revelação da música brasileira? De que maneira você definiria a Maria Rita que faz tanto sucesso agora?

Maria Rita - Boa pergunta... Claro que existe muita honra e emoção no estar presenta na vida de tanta gente, seja via CD, seja via DVD, show ou novela. O espaço que o público abriu pra mim, esse sim é mais importante e representa muito mais do que qualquer categorização da minha existência enquanto cantora! Eu não sei se sou a  maior revelação da música brasileira, e isso a mim não importa. Mas se eu fiz diferença, por menor que seja, na vida de alguém, se eu agreguei e não diminuí ou separei, isso vale muito mais do que essa "revelação".

Living - Passado todo aquele alarde do início da sua carreira no Brasil, finalmente parece que acabaram as intermináveis comparações com a sua mãe. Você acha que agora vai poder mostrar realmente quem é a Maria Rita, ou as comparações não a incomodam tanto assim?

Maria Rita - As comparações nunca me incomodaram tanto assim, o que me incomodava era a projeção, a substituição que muita gente fez quando eu apareci. Daí a minha postura muitas vezes antipática de dizer que eu não era ela e tal. Mas, enfim, sinto que essa postura gerou uma quebra dessas expectativas e desse comportamento, o que eu acho saudabilíssimo não só para mim, mas também para o público e para o legado dela como artista. Agora, eu sempre mostrei quem é a Maria Rita. E muita gente me viu. Tanto que estou aqui hoje.

Living - Muito se fala da influência da sua mãe na musicalidade, mas poucas pessoas comentam a de seu pai, César Camargo Mariano. Até que ponto ele ajudou na sua carreira também?

Maria Rita - Cara, isso é impressionante! Parece que a minha mãe fez produção independente! Mas entendo, afinal de contas foi ela quem se foi e rola um saudosismo forte. Mas, enfim, respondendo sua pergunta: meu pai me influencia - e influenciou - muito no aspecto prático da coisa. A ética dele é impecável. Me sinto honradíssima com tudo o que vivo e que reflete seu caráter. Ele, sim, é meu mestre... Musicalmente é mais indireto. Eu fui criada ouvindo sus composições, então acredito que ele esteja muito mais no inconsciente do que no, obrigatoriamente, consciente. Até porque, antes de ser "o" Sr. César Camargo Mariano, produtor, arranjador, maestro, compositor etc. e tal, ele também é meu pai... E tem uma grande diferença...

Living - De que maneira você definiria a Maria Rita que faz tanto sucesso hoje? Você primeiro começou a fazer shows para depois gravar um disco. Qual a sua intenção em seguir esse caminho inverso do que, normalmente, outros artistas seguem?

Maria Rita - Esse caminho pode ser o inverso hoje, ,mas não era há duas décadas atrás... ou algo assim. Eu acho que a minha proposta para o primeiro disco e para o início da carreira era fundamental. Eu sentia necessidade de me familiarizar com o palco antes de entrar em estúdio e gravar um disco. Era assim que se fazia, e não o inverso. Esse lance começou hoje, com favoritismos e afins. E não sou dessa onda. Não tenho medo de trabalhar, não. Eu tinha que ser o mais verdadeira possível e se não tivesse experiência de estrada, nada disso teria acontecido...

Living - Qual seu próximo projeto? Podemos esperar finalmente um segundo disco?

Maria Rita - Ah, sim, já começamos a trabalhar, eu e Lenine. Se o cronograma rolar como esperado, em setembro terei meu mais novo e esperado projeto! (Esperado por mim, explico).

Living - Você está indo para uma turnê por Mônaco e Paris. É o início de uma investida internacional mesmo?

Maria Rita - Um investimento tímido, digamos assim. Dei preferência a continuar meu trabalho aqui no Brasil. Chegou um momento em que tive que optar entre investir na carreira internacional ou fazer mais um disco aqui no Brasil. Optei pelo segundo, mas dando um pouco da minha cara pra bater lá fora. Fizemos México, faremos Mônaco, Paris e Estados Unidos. Temos perspectiva de alguns festivais de verão na Europa também, e, quem sabe, Japão. Vamos torcer.

Living - Como se sentiu ao ser a grande vencedora do Grammy 2004, com três troféus? Surpreendeu você? Seu irmão (João Marcelo Bôscoli) estava apresentando por uma emissora de televisão e ficou visivelmente emocionado com o resultado. 

Maria Rita - A gente é assim, bicho, se emociona com as conquistas do outro. É um prêmio muito importante: Melhor Música MPB ("A Festa"), Melhor álbum MPB, e Artista Revelação. Este último, especificamente, foi o que mais me emocionou principalmente porque a América Latina é uma região incrivelmente rica em ritmos e cores, música e talentos. E eu estava entre eles... Foi forte. 

Living - Sua carreira começou a subir vertiginosamente, e ao mesmo tempo você engravidou. Como administrar tanta coisa boa acontecendo simultaneamente? E agora, como está a vida de mamãe e cantora?

Maria Rita - Muita terapia, bicho, muita terapia... Estou brincando. Como diz minha tia, administrar coisa boa é fácil, o difícil é administrar pepino! Mas tem sido tudo muito bacana. O lance é que, com coisa boa, vem também o duvidoso. Mas o sorriso do meu filho e o carinho daqueles que me param na rua fazem valer a pena... de verdade. É isso o que eu tenho hoje e que me sustenta: meu filho e meu microfone.

Living - Você diz que, na escola, as pessoas sabiam do seu humor pela música que você estivesse cantando. Ainda é assim? O que você canta quando está feliz, e quando está triste, por exemplo?

Maria Rita - Sou, sim, mas não ultimamente, quando tenho escutado muita coisa para o meu disco novo! Porém, Paulinho da Viola e O Rappa são meus companheiros, tanto em bons quanto em maus momentos.


*Matéria veiculada na edição nº 4 da Living de março de 2005.

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