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Belém: da capital da gastronomia amazônica ao reconhecimento mundial do chocolate

Famosa por sua rica e autêntica culinária amazônica, Belém, capital do Pará, é um verdadeiro paraíso gastronômico. Quem visita a cidade logo se encanta com pratos tradicionais como o pato no tucupi, a maniçoba e o açaí servido com peixe frito, uma combinação surpreendente para quem não é da região, mas profundamente apreciada pelos paraenses.

Além dos pratos salgados, os doces e sorvetes feitos com frutas típicas da Amazônia, como cupuaçu, bacuri e o próprio açaí, revelam a criatividade e a diversidade dos sabores da terra.

 

Nos últimos anos, Belém e outras regiões do estado vêm ganhando destaque em outro setor igualmente saboroso: a produção de chocolate. O motivo? O cacau paraense possui qualidade superior, com aroma e sabor únicos, que vêm conquistando o paladar de especialistas e consumidores no Brasil e no exterior.

Esse reconhecimento não é por acaso. O Pará é hoje um dos maiores produtores de cacau do Brasil, colhendo anualmente cerca de 153 mil toneladas de amêndoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2024). O estado detém 53,4% da produção nacional, o que demonstra não apenas sua eficiência, mas também o grande potencial técnico e climático para a cultura cacaueira.

 A liderança paraense foi consolidada com o fortalecimento do cultivo na Região de Integração do Xingu, especialmente no município de Medicilândia, reconhecido como a “Capital Nacional do Cacau”. A cidade se destaca não apenas pelo volume produzido, mas também pela qualidade das amêndoas.

 Em 2024, Medicilândia ganhou projeção internacional ao brilhar no prestigiado Cocoa of Excellence Awards, realizado em Amsterdã, na Holanda. O produtor Robson Brongni, dedicado ao cultivo de cacau fino desde 2014, foi um dos grandes destaques. Com persistência e dedicação, seu produto foi reconhecido como um dos melhores do mundo, conquistando a medalha de prata e reafirmando o potencial do cacau amazônico no cenário global.

“O segredo do trabalho está em fazer o básico bem-feito, com uma equipe de confiança, persistência, humildade para aprender e aceitação dos erros. A qualidade vem da consistência ao longo do tempo, como mostram os resultados desde 2019, com amêndoas de cacau entre as melhores do Brasil. Em relação à sustentabilidade, ela é parte natural da cacauicultura, que está profundamente ligada à floresta e ao meio ambiente. Respeitar isso começa com o bem-estar dos trabalhadores, formando uma corrente de compromisso que envolve patrões, equipe e comunidade”, afirma Robson Brongni.

A rota paraense do chocolate

Além da importância econômica, o cultivo de cacau no Pará está fortemente integrado ao turismo, por meio da Rota do Cacau ao Chocolate, que transforma o processo produtivo em uma experiência sensorial e cultural.

 “O turismo é recente em Medicilândia, mas já mostra resultados. Estamos tornando o cacau e o chocolate uma identidade real da região, indo além do título de ‘Capital Nacional do Cacau’. Na nossa fazenda, já planejamos estruturas voltadas ao turismo, como um restaurante, e recebemos grupos do Brasil e do exterior. Isso beneficia toda a Transamazônica. Meu sonho é que, ao buscar no Google por ‘chocolate fino’ ou ‘cacau fino’, o mundo veja a Região Transamazônica como referência. A COP30 será uma vitrine para mostrar que aqui há sustentabilidade, agricultura familiar, bioeconomia e uma riqueza cultural e ambiental que o mundo precisa conhecer”, destaca Brongni. 


Ilha do Combu: chocolate com origem e sustentabilidade

Outro destaque da produção de cacau paraense está na Ilha do Combu, a cerca de 15 minutos de barco de Belém. É lá que vive Izete Costa, a Dona Nena, empreendedora ribeirinha que começou vendendo chocolate na praça e hoje comercializa seus produtos orgânicos e artesanais para diversos restaurantes do Brasil.

Na Casa do Chocolate - Filha do Combu, comandada por Dona Nena, os visitantes têm contato direto com o cultivo do cacau amazônico e com a produção artesanal de um chocolate de sabor intenso e identidade regional. Dona Nena lidera uma produção 100% orgânica, baseada em práticas sustentáveis. A propriedade recebe diariamente turistas apaixonados por cacau, principalmente pelo brigadeiro, a iguaria mais procurada pelos visitantes.

“Colhemos o cacau com respeito à floresta, aproveitando o fruto e devolvendo os resíduos à terra para fortalecer a plantação em sistema de dupla. Utilizamos apenas o excedente do suco, evitando desperdícios, e processamos o cacau em diversos produtos como pó e barras de chocolate refinado. Todo o trabalho é feito de forma sustentável, em harmonia com a natureza. Esperamos que a COP30 reconheça nosso papel como guardiões da floresta e valorize o modo como tiramos dela nosso sustento com responsabilidade”, disse Dona Nena.

A experiência turística inclui oficinas de produção de chocolate, visitas às plantações, trilhas ecológicas, banho no rio Guamá e vivência de iniciativas sustentáveis que envolvem comunidades locais, uma união entre gastronomia, ecoturismo e valorização da cultura amazônica.

A verticalização do chocolate paraense

A produção de cacau está presente em diversas regiões do Pará, das zonas rurais do interior até as ilhas próximas à capital. Isso movimenta a economia local e fortalece tanto a agricultura familiar quanto os grandes empreendimentos do agronegócio.

Mas o ciclo produtivo vai além da lavoura: cada vez mais, empreendedores apostam na verticalização da cadeia produtiva, ou seja, transformam o cacau em chocolate no próprio estado, agregando valor ao produto e estimulando o surgimento de marcas autorais e artesanais.

Hoje, o chocolate produzido no Pará não perde em nada para os grandes nomes do setor. Pelo contrário: ganha pontos ao respeitar a origem, valorizar o pequeno produtor e utilizar matéria-prima fresca, local e de alta qualidade.

Assim, Belém, já consagrada como capital da gastronomia amazônica, desponta também como referência no universo do chocolate fino, artesanal e com DNA 100% paraense.

Um sonho amazônico em forma de sabor: Gaudens Chocolate

Foi em 2004, em meio ao calor úmido e à vegetação exuberante de Medicilândia, que o chef chocolatier Fábio Sicília teve uma inquietação. Ao visitar a região, deparou-se com um paradoxo: muito cacau, mas nenhum chocolate.

Nascia ali a Gaudens Chocolate, não como mais uma fábrica, mas como um projeto ousado de valorização da floresta e dos saberes locais.

O caminho, porém, foi desafiador. Faltavam tecnologias e referências no Brasil. Foi preciso buscar conhecimento técnico na Itália e maquinário especializado na Índia.

Em 2012, a marca passou por uma reformulação decisiva. Com foco em chocolates finos, teve início uma nova fase da Gaudens: traduzir a Amazônia em cada tablete, com ingredientes autênticos e processos de excelência.


Sabores que contam histórias

Na Gaudens, cada receita carrega o espírito da floresta, combinando o cacau paraense com ingredientes nativos como cupuaçu, bacuri, açaí, tapioca e castanha-do-pará. Esses sabores ganham vida em criações únicas.

Mais do que produtos, os chocolates da Gaudens são declarações de amor à biodiversidade e ao território que os inspira, um convite para saborear a floresta com respeito, inovação e propósito.


Curiosidade: a história do cacau e do chocolate no Brasil - No começo, o cacau era consumido apenas por povos indígenas da região amazônica. Eles usavam os frutos triturados, peneiravam, misturavam com água e serviam junto com outros alimentos, bem diferente do chocolate que conhecemos hoje.

Já o chocolate, quando chegou por aqui, também era bem exclusivo. Ele era importado e consumido como uma bebida, misturado com leite, açúcar e gema de ovo. Nada de barra ou bombom naquela época!

A produção de cacau no Brasil começou a ganhar força no sul da Bahia, onde o clima era ideal para o cultivo do cacaueiro. As primeiras sementes chegaram a Canavieiras em 1746 e depois a Ilhéus, em 1752. A cultura se espalhou rapidamente, impulsionada pelo aumento da demanda por chocolate na Europa e nos Estados Unidos.

Atualmente, a Bahia ainda é uma das principais regiões produtoras de cacau, mas o estado do Pará assumiu a liderança em volume de produção.